Da viagem, que durou dias, ele guardara aturdidas lembranças, embaraçadas em sua cabecinha. De uma, nunca pôde se esquecer: alguém, que já estivera no Mútum, tinha dito: - “É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre...”...
Amanhã, ia aparar água de chuva, tinha outro gosto. Repartia com Dito. O barulho da chuva agora era até bonito.
... Miguilim esprimia os olhos. Drelina e Chica riam. Tomezinho tinha ido se esconder.
- Este nosso rapazinho tem a vista curta. Espera aí, Miguilim...
E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o jeito.
- Olha, agora!
Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo...
João Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa , sempre nos ajudando a olhar com os olhos do coração!
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